O lançamento oficial do primeiro leilão da Europa para compra de amônia verde em 2023 surge como uma oportunidade concreta para que o Brasil comece a viabilizar projetos de hidrogênio renovável, aproveitando a vantagem de possuir uma matriz elétrica menos poluente para despontar como ator de peso na transição energética mundial, afirmaram especialistas e empresas à Reuters.
O projeto europeu H2Global publicou, na semana passada, o edital de sua primeira licitação destinada à compra de amônia verde, que pode ser obtida por meio do hidrogênio produzido com energia renovável. Bastante aguardada, a iniciativa é a primeira no mundo a ganhar corpo e já estava no radar de grandes empresas de energia que estudam projetos da nova tecnologia no país, como AES Brasil e Engie.
O leilão vai comprar amônia verde a ser produzida fora dos países da União Europeia e da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês). Os contratos de compra terão prazo de 10 anos, e as primeiras entregas do produto em portos da Alemanha, Holanda ou Bélgica estão planejadas para o final de 2024 ou início de 2025.
Ocorrerá uma espécie de “licitação dupla”: o H2Global negociará, em uma ponta, a compra da amônia verde com os produtores e, em outra, a venda para grandes consumidores. A diferença de preços esperada nessas negociações será bancada por recursos aportados pelo governo alemão no H2Global, no limite de 360 milhões de euros.
Como esses projetos devem exigir elevados investimentos, a expectativa é que empresas de diferentes elos da indústria –geração de energia, fornecimento de equipamentos de eletrólise, conversão em amônia e transporte– se juntem em consórcios para aproveitar suas expertises.
Do lado dos compradores, as principais candidatas são grandes indústrias que poderiam substituir pelo hidrogênio verde combustíveis fósseis hoje utilizados em seus processos produtivos. A amônia é matéria-prima de vários produtos, como fertilizantes e plásticos.
Não há um volume específico a ser comprado, mas com base na referência de preço final da amônia – 1.272 euros por tonelada, o volume a ser entregue nos 10 anos de contrato deve alcançar patamar superior a 230 mil toneladas, segundo cálculos de Nelson Siffert, diretor do Instituto ICT Resel.
Por ter condições favoráveis de geração de energia renovável, necessária para a produção de hidrogênio verde, o Brasil é candidato natural a ter projetos participantes da licitação.
Várias empresas vêm posicionando seus projetos do combustível renovável na costa, em portos como Pecém (CE) e Açu (RJ), mirando justamente o mercado de exportação. Uma das barreiras para deslanchar os projetos é a necessidade de garantir, primeiro, um comprador para o produto.
“É uma boa notícia, porque esses projetos demandam bastante investimento e precisam ser financiados… Quem ganhar a licitação vai ter um contrato de compra de longo prazo que ajuda muito na financiabilidade”, afirma Marcos Ludwig, sócio do Veirano Advogados e integrante do grupo temático sobre hidrogênio verde e da diretoria da Câmara de Comércio e Indústria BrasilAlemanha (AHK) no Rio de Janeiro.
Na visão da elétrica AES, licitações capitaneadas por países que buscam alternativas ao uso de combustíveis fósseis serão fundamentais para colocar depé projetos de exportação do hidrogênio verde, como é o caso de sua iniciativa em Pecém.
“O que é muito relevante é a qualidade do recurso renovável, aí que o Brasil tem uma vantagem, sem dúvida, para esse mercado de exportação”, afirmou na semana passada Francisco Morandi, vice-presidente Global de Estratégia Corporativa da AES Corp, controladora da AES Brasil
“Isso porque ventos de fator de capacidade de 60%, solar acima de 30%, são as fontes principais para produzir um hidrogênio verde mais competitivo”, acrescentou Morandi, ponderando que as empresas precisarão fazer “muita conta” para garantir a viabilidade dos projetos.
No Brasil, um dos projetos mais avançados é o da empresa química Unigel, que está construindo uma fábrica de hidrogênio verde em Camaçari (BA), com previsão de iniciar produção em 2023. Os equipamentos de eletrólise serão fornecidos pela alemã thyssenkrupp nucera, e parte da energia renovável virá de uma parceria com a Casa dos Ventos.
Mas algumas regras do processo europeu podem limitar ou desestimular a habilitação de projetos nessa primeira oportunidade, apontam especialistas.
Uma delas é o prazo indicativo para início da entrega do insumo, entre fim de 2024 e 2025. Embora haja espaço para negociação, Ludwig aponta que o cronograma pode ser desafiador para projetos ainda em estágio embrionário.
Além disso, há um prazo relativamente curto, até fevereiro de 2023, para que as empresas manifestem interesse na licitação. Em uma primeira fase, o H2Global avaliará as qualificações técnicas e financeiras dos desenvolvedores e selecionará cinco consórcios para seguir no processo.
“Os consórcios têm que ter de 1 a 4 bilhões de euros de faturamento. Ou seja, não é para aventureiro, eles não querem correr risco”, afirma Nivalde de Castro, do grupo de estudos do setor elétrico (Gesel) da UFRJ.
“O Brasil vai entrar nesses leilões. Talvez não entre agora, mas vai entrar. A importância desse primeiro é que ele já dá as regras do jogo, é um marco”, acrescenta.
Ludwig, do Veirano, aponta que há uma série de detalhes a serem avaliados a partir de agora pelas empresas.
“Essa é a dúvida que os grupos (interessados) estão agora, ‘Quão maduro está meu projeto? Faz sentido eu procurar agora, será que vou atender os critérios?
A Sauer está atenta as regulamentações do setor e conta com uma linha de compressores especificamente desenvolvida para a compressão do hidrogênio em alta pressão.