Evento reuniu especialistas nacionais e internacionais para discutir o pioneirismo e as estratégias do Ceará para o setor
“A casa do hidrogênio verde no mundo será o Ceará e nós vamos trabalhar fortemente para isso”, garantiu o governador Camilo Santana, nesta quinta-feira (14), durante a abertura do Seminário Internacional Hidrogênio Verde no Ceará, realizado no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. O Seminário é realização da Editora Globo, com transmissão das redes sociais do Valor Econômico.
Dividido em três painéis, o encontro pautou as vantagens competitivas do Ceará para a implantação do Hub de produção e exportação de Hidrogênio Verde, uma energia que se apresenta como a mais limpa para diminuir a emissão de carbono e, com isso, garantir um futuro sustentável para o planeta. De acordo com o estudo “Scaling Up”, do Hydrogen Council, até 2050 o hidrogênio vai representar 18% de toda a energia consumida em todo o mundo.
Para discutir o tema, o evento reuniu especialistas nacionais e internacionais, incluindo o embaixador da União Europeia, Ignácio Ybánez, além de representantes de multinacionais e instituições que já atuam no desenvolvimento de fontes de energia renovável a nível regional e mundial. Também estiveram presentes na abertura os secretários Artur Bruno, do Meio Ambiente, Maia Júnior, do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, o presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, e o reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque.
Para o embaixador da União Europeia, o diálogo proposto colabora para uma pactuação e reflexão coletiva direcionada às mudanças climáticas e proteção do meio ambiente. “O momento não poderia ser mais propício para lançar um encontro estratégico em um super ano para o clima, com vista na COP 2026, em Glasgow, sobre mudanças climáticas, e na COP 2015, em Kunming, sobre biodiversidade. Os dois eventos vão ser uma oportunidade crucial para a comunidade internacional se juntar e assumir medidas concretas para conter as alterações climáticas. O Brasil e a União Europeia serão parceiros-chave para as negociações”, avaliou Ybánez.
O Ceará, segundo o embaixador, é um dos protagonistas nesse contexto de descarbonização e digitalização da economia mundial. “O zero líquido [relacionado à emissão de dióxido de carbono] é uma oportunidade tão grande de transformação econômica tanto aqui no Brasil como ali, na União Europeia. E os estados como Ceará desempenham um papel importante fundamental na definição de suas próprias políticas de transição energética”, complementou.
“Compreendemos que o hidrogênio verde pode ter um papel de transformar, do ponto de vista das mudanças climáticas e dos acordos internacionais, e contribuir para o planeta, mas também a nossa estratégia é de redução da pobreza. Porque, a partir do momento em que a gente cria uma estratégia de gerar energia solar lá no Interior, para que ele possa atender essa demanda da energia de hidrogênio, conseguimos desconcentrar e reduzir a pobreza”, justificou Camilo Santana.
O território cearense, caracterizado pela boa localização, sol, vento forte e vasto litoral, cria um ambiente positivo para a consolidação de projetos inovadores como o Hub de Hidrogênio Verde. Mas, além dos recursos naturais, o Estado do Ceará também revela organização e capacidade de investimento para conduzir pesquisas científicas e políticas públicas que fomentem o desenvolvimento sustentável.
Essas potencialidades se traduzem nas energias renováveis (eólica onshore, eólica offshore e fotovoltaica), na infraestrutura de logística do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), com a única Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em funcionamento do Brasil, e na parceria com o Porto de Roterdã – o maior da Europa. Além disso, o Ceará, que já é um hub aéreo, está se estruturando para ser um hub tecnológico. No estado, estão ancorados 16 cabos submarinos de fibra óptica, que conectam o Brasil, a partir de Fortaleza, com diversos países.
“As primeiras usinas eólica e solar do Brasil foram criadas no Ceará, portanto, o Ceará tem sido pioneiro nessas questões de energias renováveis e alternativas para superar as questões ambientais. E o cearense é desbravador e gosta de desafios. Nós somos o Estado mais transparente e que mais investe no País”, afirmou Camilo Santana.
O primeiro parque de energia eólica do Ceará foi implantado na Prainha, em Aquiraz. Atualmente, a capacidade de produção de energia eólica do Ceará ajuda a mitigar a crise energética no Sudeste brasileiro.
“Nos últimos dez anos, o Estado do Ceará criou uma ambiência extremamente importante e necessária para captar investimentos e investidores através de suas políticas públicas. E, agora, com a questão do hidrogênio verde, nos faz ter a convicção de que estamos no caminho para que nós possamos, cada vez mais, crescer, nos desenvolver e fazer a nossa sociedade avançar para reduzir as desigualdades”, reforçou Evandro Leitão.
Para fortalecer a cadeia do hidrogênio verde, o Governo do Ceará iniciou, em fevereiro de 2021, um regime de cooperação com diversos órgãos públicos, setor produtivo e instituições de pesquisa e universidades, representadas pela UFC e Universidade Estadual do Ceará.
“As academias estão prontas. A UFC e a Uece já trabalham com hidrogênio verde há bastante tempo, mas sabemos que o desafio é imenso. Mas, além de todas as condições naturais, temos a capacidade intelectual dos cearenses”, pontuou o reitor da UFC, Cândido Albuquerque.
A liderança assumida pelo Governo do Ceará para o setor já atraiu, segundo a Sedet, nove empresas interessadas em produzir o combustível do futuro. As australianas Energix Energy e Fortscue, a francesa Qair, a White Martins e Neoenergia assinaram entre os meses de fevereiro e setembro. A EDP anunciou no mês passado a primeira usina de H2V do Ceará que já deve iniciar operação em 2022.
“O governador falou em nove protocolos assinados. Tem mais um para ele assinar amanhã, dois que ele assinará no fim do mês durante viagem que deverá empreender ao exterior e mais quatro, totalizando 16 empresas, a quem eu quero agradecer a confiança, e passar a mensagem que acreditem na firmeza, confiabilidade e na governança do Estado”, disse Maia Júnior.
Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, ressaltou que os novos caminhos trilhados pelo Ceará para oferecer ao mundo um futuro mais sustentável confirmam o DNA inovador do povo cearense. A Fiec iniciou a oferta de curso sobre hidrogênio verde, que já recebeu mais de 3 mil inscrições. “Esse é um momento disruptivo no qual a nossa economia irá reverberar não só para o Ceará, mas para todo o mundo”, apontou.
Ao chamar a atenção para o momento dramático vivenciado pelo mundo por causa das ameaças à biodiversidade, o titular da Sema, Artur Bruno, apontou as iniciativas que contribuem para que o Ceará seja pautado na sustentabilidade.
“O governador Camilo Santana, ainda em 2016, aprovou na AL com apoio dos deputados, a Lei que estabeleceu a Política Estadual de Mudanças Climáticas. Agora, esta semana, o governador assinou um decreto determinando que o Estado do Ceará, em 2030, reduza em 50% a emissão de gases de efeito estufa, e, em 2050, o Ceará terá a neutralidade de carbono. No próximo, iremos elaborar o plano estadual de mudanças climáticas e o inventário de gases de efeito estufa”, detalhou.
As estratégias da Sema contam com o apoio do Programa Cientista Chefe da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). “Até o final do ano, vamos lançar o Atlas Costeiros e Marinho do Ceará, e irão se somar ao Atlas Eólico e ao Atas Solar. Portanto, o diagnóstico do Estado estará pronto para receber os investimentos necessários”, anunciou.
Bruno garantiu, ainda, que a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) está preparada para fazer o licenciamento das empresas de hidrogênio verde.
Em relação ao setor de hidrogênio de verde, todos esses esforços aguardam um marco regulatório nacional.