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Hidrogênio avança e players aguardam regulação no Brasil

Considerado pela versatilidade química e alta reatividade, o hidrogênio é um gás leve e de altíssimo poder calorífico utilizado em alguns processos industriais, como na obtenção do fertilizante amoníaco, mas que desponta atualmente como vetor energético e o elo que faltava para a descarbonização das economias mundiais pós Acordo de Paris, podendo até substituir o petróleo e o gás natural até 2050, segundo projeções de especialistas.

Elemento mais abundante no universo, o H2 é raro de se encontrar na Terra em seu estado natural, sendo produzido industrialmente a partir de hidrocarbonetos presentes no gás natural, caso do metano, configurando o que é conhecido por hidrogênio cinza ou azul, a depender da captura e posterior reaproveitamento do dióxido de carbono emitido, o que pode diminuir em 85% o número de emissões em relação ao carvão mineral.

Outra alternativa para sua obtenção é por meio da eletrólise da água, processo de maior custo mas que quando associado a energias renováveis culmina em uma produção sem emissão de poluentes à atmosfera, algo novo para o mercado e que passou a ser chamado de Hidrogênio Verde (H2V), tendência vista no cenário internacional como a solução dominante no longo prazo.

O grande trunfo é que a molécula pode ser armazenada para reconversão em eletricidade, combustível ou para a captura e reciclagem de carbono, servindo como um verdadeiro acoplador entre diferentes mercados, como no de gás e energia, por meio de diversas aplicações nas áreas de transporte, indústria e nos usos domiciliares.

Apesar dessas vantagens, a baixa densidade do gás dificulta o armazenamento e transporte, representando desafios atuais para seu uso como vetor energético universal, além dos preços dos eletrolisadores para usos em larga escala, o que poderá ser amenizado com a padronização e fabricação em massa das pilhas utilizadas nesses equipamentos, conforme aponta um relatório da Agência Internacional para as Energias Renováveis.

Dados do Hydrogen Council do ano passado indicam que a produção e exportação do insumo deverá responder, em 2050, por 20% de toda a demanda de energia global, gerando um mercado de US$ 2,5 trilhões e 30 milhões de empregos diretos e indiretos em todo o mundo. Como o Brasil tem cerca de

85% da sua matriz elétrica sustentável, poderá se tornar um dos grandes protagonistas desse mercado, visto também possuir o menor custo de geração limpa no mundo.

Demanda Europeia

Uma das primeiras oportunidades surge da Alemanha, país com poucos recursos renováveis e que anunciou um plano de 10 bilhões de euros visando parcerias ao desenvolvimento de tecnologias ligadas ao hidrogênio e que apoiem o compromisso de descarbonização de sua matriz energética pelos próximos 30 anos, prevendo inclusive a realização de leilões para compra de H2V de outros países.

Em entrevista à Agência CanalEnergia, o Gerente de Inovação e Sustentabilidade da Câmara Brasil Alemanha do Rio de Janeiro, Ansgar Pinkowski, disse que o tema é trabalhado há dois anos entre os dois países e agora os esforços foram intensificados com o novo plano alemão, preocupado em ajudar as nações que possuem matrizes renováveis a serem produtores e exportadores dessa commodity.

“Com muito sol, vento e biomassa o Brasil tem excelentes condições para desenvolver uma economia baseada no hidrogênio verde e desde já estamos trabalhando em divulgar o assunto a empresas e associações industriais, ajudando a iniciativa privada e até governos de alguns estados a entrar nessa onda”.

Com esse objetivo as Câmaras Alemãs do Rio e de São Paulo estão criando forças tarefas para discutir em reuniões intragovernamentais quais os entraves e o que falta para essa indústria deslanchar por aqui, bem como quais as propostas serão feitas aos governos acerca da regulamentação, normas técnicas a serem desenvolvidas ou legislações a serem atualizadas, e se possível começar a desenvolver projetos em escala piloto.

“Estamos na estaca zero e para incentivar um diálogo mais concreto vamos criar essas equipes para trabalhar nas frentes de produção, distribuição e aplicações”, afirma o diretor de Internacionalização de Empresas e Desenvolvimento de Negócios da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, Alessandro Colucci.

Segundo ele, são poucos projetos de H2V atualmente porque ainda existe um diferencial considerável de preço quando comparado ao hidrogênio cinza e azul, o que deve diminuir ao longo dos anos com a ajuda de incentivos internacionais, como no caso dos certames alemães de longo prazo e provavelmente de outros países da União Europeia que virão, destacando França, Portugal e Espanha.

Na avaliação do pesquisador sênior do Gesel, Maurício Moszkowicz, entre todos vetores energéticos existentes o H2 será fundamental sobretudo pela questão da intermitência das fontes eólica, solar e até hídrica, podendo atuar na armazenagem dessa energia nos momentos em que não houver demanda, ainda mais pela construção de novos reservatórios hidroelétricos não serem mais viáveis atualmente.

“Num primeiro momento precisamos articular esse novo mercado, criando experiências e conhecimento para o ambiente em formação, para depois começar os projetos em larga escala e desenvolver o mercado interno”, comenta, ressaltando que o Gesel trabalha com três projetos na carteira dentro do contexto de gerar conhecimento com o viés de aplicação prática.

“Usar o etanol para transportar H2 é muito interessante até para desenvolver tecnologias que possam ser exportadas.” Ansgar, da Câmara Brasil-Alemanha

Os estudos se concentram em infraestrutura e no desenvolvimento de plataformas de análise para entender como o mercado vai se posicionar em diversas escalas, além de avaliar potenciais geográficos, reservas de gás do pré-sal e diversos potenciais para economia do H2 para além da exportação, como na produção de amônia, item atualmente importado em escala considerável pelo país.

Para Ansgar, o caminho do Brasil é se posicionar como um país estratégico na exportação de H2V e apoiar o mercado interno através da biomassa, visto possuir uma tecnologia e infraestrutura avançada e madura para o etanol, que nada mais é que “um casco de hidrogênio” e que pode criar o carro 100% limpo a partir de uma célula combustível que é convertida em eletricidade, com a vantagem desse sistema pesar muito menos do que as baterias.

“Usar o etanol para transportar o H2 é uma questão muito interessante até para desenvolver tecnologias que possam ser exportadas posteriormente”, salienta, afirmando que o país precisa dar sinais claros de que deseja investir nessa economia e fazer o marketing internacional para atrair mais empresas.

Ceará sai na frente

Enquanto o movimento esquenta na Alemanha, a partir desse ano algumas companhias internacionais da cadeia de gás mostraram interesse em desenvolver projetos no Brasil, assinando memorandos de entendimento para avaliar a construção de plantas para produção e exportação do H2 ou de soluções a partir do Porto de Pecém (CE), caso das australianas Enegix, White Martins, Fortescue e mais recentemente da Qair Brasil, as duas últimas também analisando o Porto de Suape (PE), assim como a Neoenergia.

“Pretendemos lançar um projeto de exportação de hidrogênio verde com grande potencial de crescimento para empresas locais, aproveitando ao máximo as sinergias que o Ceará proporciona a partir da planta de gases do ar que temos em Pecém”, disse à Agência CanalEnergia o diretor de Hidrogênio Verde e Gás Natural da White Martins, Guilherme Ricci, que enxerga na mobilidade elétrica uma das alavancas para utilização do H2V no país, descarbonizando frotas de ônibus e caminhões de longo curso.

Segundo ele, a intenção da companhia é participar de outras oportunidades dentro do Brasil, acreditando que a demanda futura será grande o suficiente para suportar diversos projetos. “Fazemos neste primeiro período avaliações preliminares de engenharia, tais como capacidade, utilidades, área, dentre outras em análise”, complementa.

Considerado como primeiro hub de hidrogênio em formação no país, o porto cearense tem vantagens competitivas consideráveis, como estar mais próximo dos mercados internacionais, tendo rotas marítimas há 12 dias do Porto de Roterdã, que detém 30% de Pecém e por onde acontecerá o escoamento futuro do H2V na Europa.

O local também conta com uma zona livre de impostos e uma área de 200 hectares reservada aos players interessados em montar seus parques tecnológicos, a Zona de Processamento Especial (ZPE), que trará economia de 30% a 40% com OPEX e CAPEX dos investidores e benefícios fiscais com o Programa de Incentivos à Cadeia Produtiva de Energias Renováveis (Pier).

A ideia, segundo o governo estadual, é que o Complexo Industrial e Portuário abrigue uma complexa cadeia produtiva, inclusive com uma planta de dessalinização com capacidade de eletrolisar 5 GW e gerar 900 mil toneladas de H2V.

Ademais o estado possui um dos principais potenciais eólico e solar do país, somando 991 GW entre plantas fotovoltaicas, parques eólicos onshore/offshore e projeto híbridos, com os dados dispostos em publicações informativas que facilitam a compreensão e análise de empresários, os chamados Atlas.

“O Brasil está mais próximo da Europa e tem uma base industrial diversificada, matriz renovável e águas com nenhum canal ou disputas internacionais para navegação em comparação com outros países que também estão se colocando nessa corrida, como Chile, Austrália”, salienta o presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará, Jurandir Picanço, acrescentando que o segundo passo são os memorandos mais operacionais, visando estabelecer as ocupações.

Segundo Picanço, que também é consultor em Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), os trabalhos no momento recaem na capacitação de profissionais para todo processo do hidrogênio, com a Federação tendo preparado já um arcabouço para esse conhecimento, inclusive realizando projetos piloto e fornecendo H2 para o Japão, visando avaliar o fator crítico de transporte da molécula.

“Estudamos possibilidades de exportar na forma de amônia e alternativas para encontrar a mais compatível para o mercado, que no momento é a de H2 comprimido”, aponta, destacando que o hub já reúne mais de US$ 14 bilhões em investimentos previstos.

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Fonte: https://www.h2verdebrasil.com.br/noticia/hidrogenio-avanca-e-players-aguardam-regulacao-no-brasil/

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